quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Teníase/Cisticercose

Por Caio Fortes



No interior do tubo digestivo de João, uma Taenia solium enfrentava uma profunda crise depressiva. Enfastiada pela vida solitária desejava a todo custo, ser expelida pelo ânus do seu hospedeiro, encerrando assim um longo período de sofrimento.

_Que tédio, em que vida infeliz, sem nenhuma companhia aqui, neste túnel escuro. Nem as minhas proglotes eu vejo, já elimino habitualmente, por ocasiões das defecações do João!

E, melancolicamente, prosseguia: 

_Daqui não escuto nem os puns do João. É muito sofrimento, sô!
Minha vida é muito confinada e este lugar me lembra presídios. Ahhh, os presídios têm solitários, mas sou uma solitária de presídios têm solitárias, mas sou uma solitária de presídios!

Interrompendo momentaneamente toda amargura, o verme consegue enfim arquitetar um plano para sua libertação:

_Vou esquecer que sou uma solitária e mentalizar apenas que sou uma Taenia solium. Se a Tênia lembra tenesmo, vou produzir uns daqueles bem fortes, de modo a forçar este cara que me hospeda a buscar algum tratamento que venha culminar na minha eliminação!

Sentindo dores fortes e dores abdominais, náuseas e tonturas, João procura atendimento médico, já que mesmo tendo vontade, não consegue defecar. O Doutor lhe recomenda sentar-se em uma bacia com água quente, logo após a ingestão de um preparo obtido pela trituração de uns 300 gramas de sementes frescas de abobora em leite. Após evacuar, e diante daqueles 2 metros de Tênia expelida, o paciente lhe rende última homenagem: Que seja você a única, a primeira e a última!

LINARD, P. M. Fábulas parasitológicas. São Paulo: Atheneu, 1998. p. 19.

Fonte: https://fortissima.com.br/2015/08/12/teniase-saiba-quais-sao-os-sintomas-e-como-se-prevenir-14704799/


A Teníase/Cisticercose é uma doença causada por animais do filo Platyhelminthes cujo agente etiológico é a espécie Taenia solium. Há também as espécies T. saginata e T. asiatica, que infectam o ser humano, mas só causam Teníase.

A teníase é uma infestação intestinal causada pela forma adulta de tênias, podendo chegar a 25 m de comprimento no intestino delgado.


Fonte: https://www.embrapa.br/contando-ciencia/doencas/-/asset_publisher/029QV9Xlyng8/content/teniase-e-cisticercose-ja-ouviu-falar-nelas-/1355746?inheritRedirect=false


As larvas de Taenia solium são encontrados nos musculos dos porcos infestados ao ingerir alimentos contaminados com fezes humanas que contenham ovos de tênia. Os porcos geralmente não manifestam sintomas aparentes.

Já o ser humano é parasitado após ingerir carne de porco mal cozida,sendo este o ciclo em que o porco é o hospedeiro intermediário e o homem o definitivo. 

Fonte: https://www.slideshare.net/adilatrubat/aula-6-platelmintos-taenia



Quando o homem é o hospedeiro intermediário é que o caso pode se tornar grave. Ao ingerir os ovos de Taenia solium(que são eliminados pelas fezes humanas) por meio maus hábitos de higiene, água ou alimentos contaminados, se infecta, contraindo cisticercose, que causa diferentes sintomas dependendo do tecido que em que as larvas (cisticercos) se alojarem. O mais comum é quando se alojam no cérebro, e os sintomas podem ser confundidos com tumores cerebrais, meningite, histeria ou, principalmente, epilepsia, sendo denominada neurocisticercose. Estudos indicam que ao menos 30% das pessoas que tem epilepsia em países onde a Taenia solium é endêmica tiveram neurocisticercose.

Fonte: https://ubisafe.org/explore/cestode-clipart-giant/

Sintomas

A doença geralmente não apresenta sintomas evidentes, resumindo-se em transtornos intestinais, náuseas, fraqueza e perda de peso.

Prevenção

- Educação e conscientização da população sobre a importância dos bons hábitos de higiene 
- Identificação de focos da teníase, com diagnóstico e tratamento de toda população 
- Saneamento básico 
- Impedir que porcos tenham acesso ao esgoto humano 
- Coibir irrigação de hortas e pomares com água de rios e córregos que recebam esgoto humano


Para saber mais...
- AGAPEJEV, S. Aspectos clínicos epidemiológicos da neurocisticercose no Brasil – análise crítica. Arq. Neuropsiq., v. 60, p. 211-218, 2003
http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/taeniasis-cysticercosis
http://www.saude.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=1445

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Doença de Chagas

Por Lorena Tabosa


Em 1909, o pesquisador e médico Carlos Chagas descreveu, no interior de Minas Gerais, uma doença que levaria seu nome. Todos esses anos depois, a Doença de Chagas ainda atinge um grande número de pessoas no Brasil.


Trata-se de uma infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Engana-se quem pensa que a doença sempre teve o homem como um dos hospedeiros. T. cruzi é encontrado também em pequenos mamíferos e é se alimentando desses hospedeiros que os vetores adquirem os protozoários e podem transmiti-los às pessoas. Isso aconteceu à medida que o homem começou a ocupar áreas antes florestadas, próximas a esses animais.


O vetor

       Os vetores dessa doença são insetos triatomíneos hematófagos. São popularmente chamados de barbeiros e, das aproximadamente 137 espécies no mundo, 48 são descritas no Brasil.

Ciclo de vida do barbeiro. Fonte: http://animais.culturamix.com/informacoes/insetos-e-aranhas/fotos-barbeiro

       Esses insetos apresentam hábitos noturnos e podem ser encontrados em áreas de vegetação, mas também dentro de residências. 



Formas de transmissão


Durante o momento de alimentação do sangue dos indivíduos, o barbeiro defeca na pele do indivíduo picado. As fezes contêm indivíduos infectantes que adentram no organismo através do orifício da picada ou por ferimentos causados pelo ato de coçar.
A transmissão também pode ocorrer por transfusão de sangue, de forma congênita, por alimentação de alimentos contaminados, pelo leite materno, por acidentes laboratoriais e por transplante de órgãos. 

Fonte: http://animais.culturamix.com/informacoes/insetos-e-aranhas/fotos-barbeiro

Sintomas


            A Doença de Chagas apresenta duas fases, a aguda e a crônica. A fase aguda é a inicial e dura de três a quatro meses e pode ser caracterizada por pálpebras inchadas e uma marca semelhante a um furúnculo na região da picada. Também pode ocorrer febre, dores de cabeça, mal-estar, dentre outros sintomas mais raros. 
        A fase crônica pode durar de cinco a 30 anos e tem por características lesões cardíacas graves e o comprometimento do trato digestivo, podendo causar a morte do indivíduo. 

Prevenção

- Combate aos vetores
- Melhorias nas habitações para que o vetor não se instale
- Intensificação do controle de qualidade nas doações de sangue
- Identificação das gestantes infectadas para evitar uma possível transmissão pelo leite materno
- Cuidados na alimentação por alimentos produzidos artesanalmente



Para saber mais...

- http://www.cpqrr.fiocruz.br/informacao_em_saude/cict/doenca_de_chagas.htm

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Amarelão - Doença do Jeca Tatu

Por Emidio J. de S. dos Santos


Jeca Tatu, personagem criado por Monteiro Lobato, há exatamente um século, em 1918, trouxe à tona problemas de saúde pública existente no Brasil. Jeca Tatu serviu como ferramenta a favor do saneamento, além de esclarecer e educar a população sobre uma doença tropical que, na época, vitimava milhões de brasileiros por ser tão negligenciada: o amarelão.
Jeca, retratado como um caipira caboclo que andava descalço em meio rural sem saneamento e noção de higiene, era confundido com uma pessoa preguiçosa que não gostava de trabalhar, até que um dia um médico passou em sua vida e viu que ele estava amarelo e muito magro. Ao ser examinado, Jeca disse sentir muito cansaço e dores pelo corpo. Ele descobriu a doença chamada ancilostomose, o amarelão.
 E médico o explicou que a doença era causada por pequenos vermes que entraram em seu corpo pela pele, provavelmente por ele andar descalço. Receitou-lhe, então, remédios e um par de botas. Daí por diante a vida de Jeca mudou. Ele ficou muito mais ativo e trabalhador se tornou alguém respeitado. Ele, a mulher e os filhos andavam calçados para evitarem a doença.

 
Fonte: www.miniweb.com.br/literatura/artigos/jeca_tatu_história1.html


A ancilostomíase, também chamada de ancilostomose, amarelão ou Doença do Jeca Tatu é uma doença causada por (vermes) parasitas Ancylostoma duodenale ou Necator americanos, que são nematelmintos, que causam anemia, fraqueza e icterícia, cor amarela na pele.

Ciclo Biológico da Ancilostomíase

1-    A larva do verme penetra através da pele, momento em que podem surgir pequenas lesões na pele, coceira e vermelhidão;
2-  As larvas atingem a circulação sanguínea, onde migram pelo organismo, atingindo o coração e, em seguida os pulmões;
3-   Em seguida, caem nas secreções pulmonares, atingindo os brônquios, traqueia, boca e sendo deglutido até chegar ao estomago e, por fim, o intestino delgado
4-  No intestino, os vermes acasalam e se reproduzem, dando origem a ovos, que são eliminados através de fezes;
5-   Em solos úmidos, especialmente de locais tropicais, os ovos eclodem, dando origem a novas larvas que podem infectar mais pessoas

Fonte: www.tuasaude.com/ancilostomiase/amp/ 

Principais sintomas

- Lesão no local da pele, onde a larva penetrou com vermelhidão, coceira e irritação
- Tosse
- Respiração com ruído
- Dor de barriga
- Diarreia
- Perda de apetite e perda de peso
- Anemia e palidez
- Atraso no crescimento e desenvolvimento mental em crianças

É chamado amarelão pois a anemia provocada por ações dos vermes no intestino pode provocar palidez ou um tom de pele amarelado.


Para o diagnóstico é necessário consulta ao médico e o tratamento é feito com remédios antiparasitários.

Prevenção

Através de hábitos de higiene como andar calçado e sempre lavar as mãos e alimentos antes de comer.

Para saber  mais...

- www2.ibb.unesp.br/departamentos/Educacao/Trabalhos/obichoquemedeu/ancilostomose_jeca_tatu.htm

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Esquistossomose



Por Carolina Correia

Também conhecida como “barriga d' água”, doença do “caramujo” ou “xistose”, é uma doença causada pelo Schistosoma mansoni, parasita do filo Platyhelminthes (vermes achatados). Seu hospedeiro definitivo é o homem, mas para completar seu ciclo de vida, necessita de caramujos de água doce como hospedeiros intermediários. Geralmente é uma doença assintomática no início da infecção, mas pode evoluir para formas extremamente graves, e até levar o paciente a morte.
Fonte: https://descomplica.com.br/blog/biologia/exercicio-resolvido-esquistossomose/

Não existe vacina para a esquistossomose e para tratar as pessoas doentes, utilizam-se medicamentos específicos que combatam o Schistossoma mansoni.

Ciclo e transmissão
1.    Os ovos do Schistossoma mansoni são liberados na água com as fezes da pessoa doente
2.    No ambiente aquático, os embriões (miracídios) saem de dentro dos ovos
3.     Os miracídeos entram no caramujo, onde se desenvolvem e viram larvas (cercárias)
4.    As cercárias do Schistossoma mansoni deixam o caramujo e ficam na água até encontrar o hospedeiro definitivo
5.     Quando encontram o hospedeiro definitivo, as cercárias penetram pela pele das pessoas que têm contato com a água contaminada.




Fonte:  https://www.cdc.gov/parasites/schistosomiasis/biology.html



Sintomas
Alguns dias após a infecção, o paciente pode apresentar coceiras, vermelhidão na pele, febre, indisposição, tosse, diarreia, enjoos, vômitos e perda de peso.
Na fase crônica geralmente não apresenta sintomas, mas pode ocorrer a alternância de diarreias com períodos de prisão de ventre e a doença pode evoluir para sua forma mais severa, com aumento do fígado (hepatomegalia) e do baço (esplenomegalia), hemorragias e a barriga d’água (abdome dilatado e proeminente).

Como evitar?
·         Tratamento dos doentes;
·         Implantação de medidas de saneamento básico, para evitar que fezes contaminadas cheguem ao ambiente;
·         Controle dos caramujos que são hospedeiros intermediários do S. mansoni;
·         Não entrar em locais com água possivelmente contaminada (geralmente lagos e riachos sem muita correnteza) sem roupas adequadas (botas e luvas de borracha, por exemplo);
·         Educação em saúde: alertar as pessoas sobre a doença principalmente em áreas endêmicas.


Para saber mais...
ESQUISTOSSOMOSE. Prefeitura do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.rio.rj.gov.br/web/sms/exibeConteudo?id=4615138> Acesso em: 04/11/2018

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Doenças negligenciadas no Brasil: urbanização desenfreada e cenário atual


Fonte: http://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=7725&ed=1347&f=30

Olá, pessoal! Esse é o primeiro texto do nosso blog e é uma introdução ao tema e seu processo no país. Vamos entendê-lo, então!
No final da década de 1940 a industrialização gerou um processo migratório de pessoas, principalmente, para a região sudeste do Brasil. A instalação dessas pessoas reflete um cenário de segregação. Classes mais pobres se instalaram em condições improvisadas e sem investimentos do governo.
O processo de urbanização desordenada pode causar efeitos danosos ao meio ambiente. A ocupação de áreas antes não degradadas, sem o devido planejamento, pode gerar impactos negativos à localidade. Os impactos relacionados incluem enchentes, ilhas de calor, absorção de poluentes e doenças.

Fonte: https://www.ddribeira.com.br/causas-da-falta-de-agua/esgoto-a-ceu-aberto-falta-de-infraestrutura-por-parte-do-governo/

No Brasil, aproximadamente 20% da população não usufrui de abastecimento de água potável e 55%, de saneamento básico (IBGE, 2010). Além desses problemas há uma enorme negligência dobre o descarte do lixo que quando não ocorre em lixões a céu aberto, ocorre em aterros sanitários que, muitas vezes contaminam lençóis freáticos. Nesse cenário, pessoas são expostas às chamadas doenças negligenciadas, que são doenças infecciosas e parasitárias que atingem populações de baixa renda (Araújo et al., 2013).
Dentre as principais doenças negligenciadas estão a Doença de Chagas, Leishmanioses, Malária, Tuberculose, Hanseníase, Ancilostomíase, Dengue e Esquistossomose. Como o próprio nome diz, o termo negligenciar é um indicativo direto da ausência de investimentos não somente na saúde, mas em todos os fatores que a norteiam, como melhorias na qualidade de vida. Um problema que se agrava ainda mais pelo fato de a capacidade financeira não ser mais suficiente para reparar todo o problema.
Nossas próximas postagens serão sobre as doenças em si, seus vetores, suas consequências e soluções possíveis.



Para saber mais...
Araújo, I. S. D., Moreira, A. D. L., & Aguiar, R. (2013). Doenças negligenciadas, comunicação negligenciada. Apontamentos para uma pauta política e de pesquisa.
Caiado, M. C. S. (2016). O padrão de urbanização brasileiro e a segregação espacial da população na Região de Campinas: o papel dos instrumentos de gestão urbana. Anais, 457-488.
FUNASA. (2015). Manual de Saneamento / Ministério da Saúde, Fundação Nacional de Saúde. – 4. ed. – Brasília. 642 p.
Gouveia, N. (1999). Saúde e meio ambiente nas cidades: os desafios da saúde ambiental. Saúde e sociedade, 8, 49-61.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008. (2010). Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb2008/PNSB_2008.pdf>. Acesso em: 16/09/2018.
Silva, L. J. D. (1985). Crescimento urbano e doença: a esquistossomose no município de São Paulo (Brasil). Revista de Saúde pública, 19, 1-7.
Souza, L. A., Sobreira, F. G., & do Prado Filho, J. F. (2005). Cartografia e diagnóstico geoambiental aplicados ao ordenamento territorial do município de Mariana–MG. Revista Brasileira de Cartografia, 3(57).